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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Os Caramujos




Me lembro bem, quando eu tinha 5 anos de idade, no exato ano de 1993, meus pais foram para Goiás na divisa com Mato Grosso garimpar numa certa região.
 O acesso até lá era muito difícil, pois na estrada havia muita areia, o que dificultava nossa locomoção, pois meu pai me carregava num caixote em cima de uma bicicleta.
Durante o trajeto duas coisas me marcavam muito. A primeira era uma escolinha feita de folhas de coqueiro e barro na beira da estrada. Tinha algumas cadeiras velhas do lado de fora, mas isso pra mim não importava, por que eu sempre passara ali com meus pais, e sempre tinha esperança de ver sequer um aluno, uma criança, mas isso nunca chegou a acontecer.
A segunda coisa que me marcava muito, era uma Flor de Hibisco. Ela era única em meio ás folhas de árvores. E por incrível que pareça, sempre que eu passava nesse trecho da estrada, lá estava ela toda majestosa, embelezando o caminho. Era vermelha, muito linda.
Morávamos num ranchinho feito de folhas de coqueiro, muito humilde. Tinha um pequeno lago que passava ao lado e tinha uma árvore a uns 5 metros de frente ao nosso ranchinho.
Em baixo da árvore eu encontrava conchas de caramujos. Mas não uma concha qualquer...ela era branca com bordas cor-de-rosa. Tinha muitas delas lá.
Enfim, eu acreditava que caramujos davam em árvores, e depois de “ maduros “ caíam as conchas. Engraçado isso, mas eu acreditava. Tamanha era minha inocência, perante as dificuldades que meus pais enfrentavam para conseguir achar uma pedrinha de diamante para que nos alimentássemos nos dias seguintes.
Lembro claramente de ver meu pai garimpando e muito ao longe uma igrejinha. Todos os dias no mesmo horário, mais ou menos umas 18:00 hs , dava pra escutar os badalos do sino da igrejinha.
Mas hoje eu sei da importância da humilde escolinha na beira da estrada, e sei que muitas crianças daquele lugar nunca frequentaram uma escola com recursos para o bom aprendizado, mas com certeza tiraram algo de bom daquele lugar.
E também entendi, que apesar de toda dificuldade e sofrimento que há em nossas vidas, há também uma Flor de Hibisco a nos dar o prazer de sua beleza, e de que todo sofrimento é necessário para nossa evolução.
E agora sei que caramujos não dão em árvores. E que aquelas conchas estavam ali para me alegrar e me entreter enquanto meus pais trabalhavam.
Nada é por acaso. Para tudo há um motivo.O que antes eu via como lembranças ruins, hoje vejo como bênçãos.
Na nossa inocência, acreditamos em coisas sem sentido, como acreditar que nuvens eram algodão doce. Isso mostra que Deus cuidou muito bem da minha infância, pois pude acreditar no que eu quisesse. E que apesar das fantasias, por trás disso tudo havia a riqueza da vida, o prazer das descobertas, a beleza da natureza que Deus deu ao homem para alegrá-lo e a esperança por dias melhores, que realmente chegaram. 

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