Me lembro
bem, quando eu tinha 5 anos de idade, no exato ano de 1993, meus pais foram
para Goiás na divisa com Mato Grosso garimpar numa certa região.
O acesso até lá era muito difícil, pois na
estrada havia muita areia, o que dificultava nossa locomoção, pois meu pai me
carregava num caixote em cima de uma bicicleta.
Durante o
trajeto duas coisas me marcavam muito. A primeira era uma escolinha feita de
folhas de coqueiro e barro na beira da estrada. Tinha algumas cadeiras velhas
do lado de fora, mas isso pra mim não importava, por que eu sempre passara ali
com meus pais, e sempre tinha esperança de ver sequer um aluno, uma criança,
mas isso nunca chegou a acontecer.
A segunda
coisa que me marcava muito, era uma Flor de Hibisco. Ela era única em meio ás
folhas de árvores. E por incrível que pareça, sempre que eu passava nesse
trecho da estrada, lá estava ela toda majestosa, embelezando o caminho. Era
vermelha, muito linda.
Morávamos
num ranchinho feito de folhas de coqueiro, muito humilde. Tinha um pequeno lago
que passava ao lado e tinha uma árvore a uns 5 metros de frente ao nosso
ranchinho.
Em baixo da
árvore eu encontrava conchas de caramujos. Mas não uma concha qualquer...ela
era branca com bordas cor-de-rosa. Tinha muitas delas lá.
Enfim, eu
acreditava que caramujos davam em árvores, e depois de “ maduros “ caíam as
conchas. Engraçado isso, mas eu acreditava. Tamanha era minha inocência,
perante as dificuldades que meus pais enfrentavam para conseguir achar uma
pedrinha de diamante para que nos alimentássemos nos dias seguintes.
Lembro
claramente de ver meu pai garimpando e muito ao longe uma igrejinha. Todos os
dias no mesmo horário, mais ou menos umas 18:00 hs , dava pra escutar os
badalos do sino da igrejinha.
Mas hoje eu
sei da importância da humilde escolinha na beira da estrada, e sei que muitas
crianças daquele lugar nunca frequentaram uma escola com recursos para o bom
aprendizado, mas com certeza tiraram algo de bom daquele lugar.
E também
entendi, que apesar de toda dificuldade e sofrimento que há em nossas vidas, há
também uma Flor de Hibisco a nos dar o prazer de sua beleza, e de que todo
sofrimento é necessário para nossa evolução.
E agora sei
que caramujos não dão em árvores. E que aquelas conchas estavam ali para me
alegrar e me entreter enquanto meus pais trabalhavam.
Nada é por
acaso. Para tudo há um motivo.O que antes eu via como lembranças ruins, hoje
vejo como bênçãos.
Na nossa
inocência, acreditamos em coisas sem sentido, como acreditar que nuvens eram
algodão doce. Isso mostra que Deus cuidou muito bem da minha infância, pois pude
acreditar no que eu quisesse. E que apesar das fantasias, por trás disso tudo
havia a riqueza da vida, o prazer das descobertas, a beleza da natureza que Deus
deu ao homem para alegrá-lo e a esperança por dias melhores, que realmente
chegaram.
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